Freguesia
História da Freguesia
O Património Histórico deve sempre ser exaltado em qualquer região, visto que retrata as mais profundas origens e os mais importantes acontecimentos de uma povoação.
A Gafanha era um local de areal inculto, que começou por ser habitada desde o século XVII, e em 1758 já era uma povoação com 14 vizinhos ou fogos e 40 pessoas. No século XIX incrementou-se o povoamento, graças a gentes vindas principalmente dos concelhos de Vagos e de Mira, tão necessitados se encontravam de terra para cultivar. E é curioso verificar como o povo de Ílhavo e de Aveiro nunca se interessou pelo aproveitamento destes areais esbranquiçados e estéreis.
Em épocas diversas esta região foi ocupada e reocupada por gentes de usos e costumes variados que se entrosaram nos usos e costumes dos caseiros que por aqui se haviam estabelecido com a ânsia primeira de dominarem dunas teimosas e estéreis, à força de braços habituados a trabalhos duros e de vontades de “antes quebrar que torcer”. Depois foram os trabalhos nas obras do porto e construção do farol, nos estaleiros e nas secas do bacalhau, nas salinas e na plantação da mata da Gafanha que atraíram esses povos, vindos também do Minho e das Beiras.
A freguesia da Gafanha da Nazaré, tomou o designativo da padroeira da sua igreja Nossa Senhora da Nazaré. Também se chamou Gafanha da Cale da Vila, por ficar contígua ao esteiro deste nome que conduzia à antiga vila de Aveiro. A antiga “Cale da Vila”, tem uma história recente, que se explica pela formação também recente do seu território, quer pela fixação da sua população que apenas se iniciou há poucas centenas de anos.
Pertencendo desde a primeira hora à freguesia e paróquia de Vagos, em 21 de Março de 1835 passa a depender religiosamente de Ílhavo e em 31 de Dezembro de 1853 foi desanexada civilmente de Vagos e passou a integrar a freguesia de que dependia já não obstante assim estar determinado, a verdade é que a ligação a Vagos perdurou e só um Decreto de 24 de Outubro de 1855 veio definir as fronteiras de Vagos e de Ílhavo. Em 19 de Setembro de 1856 o movimento paroquial de Ílhavo mostrava a Gafanha como terra em franco desenvolvimento, quer sob o ponto de vista demográfico, quer agrícola.
A 31 de Agosto de 1910, por ordem de D. Manuel II é criada a freguesia / paróquia da Gafanha da Nazaré, última a ser criada durante a Monarquia Portuguesa – Publicado no Diário do Governo nº 206 no dia 16 de Setembro de 1910.
A 29 de Outubro de 1969 – a Gafanha da Nazaré é elevada a Vila, como está escrito no Decreto nº 49332 – Publicado no Diário do Governo nº254 (1ª série) 29 de Outubro 1969, que resumidamente justifica com o crescimento demográfico, a zona portuária de Aveiro, a existência da Casa dos Pescadores, Posto Médico da Previdência, Grupo Desportivo, Cinema e Mercado.
A 19 de Abril de 2001 – é elevada a Cidade a localidade da Gafanha da Nazaré, por proposta do CDS-PP, Lei nº 32/2001, publicada no Diário da República de 12 de Julho de 2001, nº 160, série I-A, página 4230.
Primeiros Povos
As populações que se fixaram, ao longo dos séculos, nesta língua de areia de 150 quilómetros quadrados entre o Oceano Atlântico e a Ria no seu ramo meridional, foram tirando o seu sustento do mar e da terra, sendo de destacar as que se radicam e procriam no que é hoje a Gafanha da Nazaré; pelo seu espírito de iniciativa, pela sua capacidade de trabalho e pela coragem perante a adversidade foram a base de reestruturação e incremento da pesca do bacalhau no centro do país, da pesca da sardinha na região de Aveiro, da construção e alargamento do porto comercial, da indústria da construção naval na zona do distrito bem como de um número avultado de outras realizações no sector secundário.
Certamente originários de Vagos, de Mira e das suas imediações, os primitivos colonos da Gafanha prosseguiram nos seus hábitos antigos e nos processos de amanho e cultivo das terras, até porque os inóspitos areais e pousios selvagens eram semelhantes aos chãos onde anteriormente se ocupavam; terrenos da mesma constituição seriam trabalhados por homens dos mesmos costumes, que poderiam usar os mesmos métodos e as mesmas alfaias agrícolas. Aos lavradores de Ílhavo e de Aveiro não seria apetecível a migração para as areias pobres e áridas, a exigirem muita persistência e muita canseira. Outros chegariam mais tarde, filhos de diversas regiões, mas vinham sobretudo para os estaleiros, para os barcos, para a pesca, para as secas do bacalhau, etc.; então, a partir da segunda metade do século XIX, já havia ligação estradal para os lados do nascente, em direcção a Aveiro e a Ílhavo.
Aqueles pioneiros, quando apostaram no cultivo das lombas, não encontraram condições capazes de favorecer a germinação das sementes nem matéria orgânica que lhes desse alento. Mas… não desanimaram; aprenderam a apanhar o moliço do fundo da ria, misturaram -no nas areias e a árida e pantanosa «Galafânia» de então tornou-se na promissora e verdejante «Gafanha» de agora. Realizaram o «milagre» e, por isso, sentiam -se certamente livres e felizes; o esforço dava os seus resultados.
Em conclusão, citando o Padre João Vieira Resende, «1º, que o povoamento da Gafanha começou seguramente cerca do ano 1677, época relativamente muito recente, mas mais remota do que muita gente julgava; – 2°, que, embora se não saiba de cultivadores existentes na Gafanha antes de 1677, prova-se no entanto que as suas terras já produziam pão naquela época, o que nos indica ter havido cultivadores anteriormente e, portanto, que o seu povoamento provável teria começado antes de 1677; – 3º, que esse povoamento foi feito, pode dizer-se, quase exclusivamente pelos povos vindos da freguesia de Vagos e, que eles ainda continuaram a povoar até uma época muito próxima; – 4º, que os povos de outras freguesias só muito tarde e muito frouxamente contribuíram para o povoamento; – 5º, que a infiltração destes povos na Gafanha, a princípio morosa e depois quase tumultuária, se explica e justifica documentalmente por necessidades de expansão e cultura; – 6°, que só frouxamente se pode dar foros de verdadeira à tradição de que seriam quatro criminosos os fundadores da Gafanha».
Origem do termo Gafanha
As condições naturais da envolvência das Gafanhas, favoreceram o desenvolvimento de várias espécies vegetais, entre as quais o junco, que passou a constituir mais um elemento fertilizador desta zona. Outrora era utilizada uma expressão “ Vamos lá, vamos lá com Deus gadanhar à praia o junco”, e de acordo com Segundo o Padre Resende, esta expressão “gadanhar” – cortar com a gadanha – que se repetia muitas vezes, terá estado na origem da palavra Gafanha, que hoje identifica esta vasta região.
No entanto existem outras explicações, para a determinação da origem da palavra Gafanha.
O Padre João Gaspar (1986), indica que Gafanha deriva do radical gafo. Esta região arenosa seria, em séculos passados, uma zona onde se deixariam – não para curar mas para os deixar morrer num clima húmido – os doentes que tivessem contraído a doença da gafa ou da lepra; a Gafanha seria por isso uma terra de gafos.
De acordo com o Padre Manuel Maria Carlos, a palavra Gafanha é derivada de Gafânia, que por sua vez teria provindo semanticamente de gafano. Gafano seria o homem destas terras que se sentia ou estava gafado, isto é, agarrado ou submetido pela doença ou por outras razões, mesmo de justiça, e impedido de se deslocar para fora, sem que previamente pagasse a portagem ou conseguisse autorização para isso.
Segundo Leite de Vasconcelos (1942), “Gafanha seria na origem um nome zoológico, ou aparentado biológica ou metaforicamente com o gafanhoto ou ao menos formado como gatanho (=tojo=gatão), onde entra o sufixo – anho, deduzido de murganho (nome de estirpe latina), e aplicado no feminino”.
Uma outra explicação dá-nos a seguinte justificação: Gafanha associa-se a Galafanha, cujas duas primeiras sílabas se contraíram, como aconteceu com Talavarium ou Alavarium que deu Taveiro e Aveiro; por sua vez, Galafanha seria resultado da evolução semântica de Galafânia. Assim, tal designação significaria vulgarmente uma zona pantanosa ou lacustre, abundante em espécies de junco, papiro ou ervas selvagens.
Como actividades principais, destacavam-se a pesca, a apanha do moliço e a salicultura, actividades ancestrais nesta área, e ainda a agricultura e o comércio responsáveis pelo desenvolvimento de algumas das povoações ribeirinhas.
De acordo com Pinho Leal (1873), Gafanha da Nazaré é uma aldeia na freguesia e concelho de Ílhavo, comarca a 3 km’s a oeste de Aveiro. É uma povoação pequena, rodeada pela ria de Aveiro, tendo a Sudoeste a Barra e a fortaleza, e a sul a vila de Vagos. A Este encontra-se Aveiro, cuja cidade está ligada pela A25.
Parece que a primeira povoação que aqui houve foi um hospital de gafos, que lhe deu nome. Dizem outros que o seu nome provém de gafar (palavra árabe) tributo que se paga pela passagem de um rio, em barca ou ponte do estado, porque antigamente existia uma ponte de madeira para a comunicação com a terra. Era então – o lugar onde se pagava o gafar. Segundo Pinho Leal (1873) é a teoria mais provável, porque os antigos portugueses denominavam gafaria (e não Gafanha) ao hospital de gafos.
Uma outra versão reporta-se a uma mulher que tinha morfeia, vendo-se desprezada de todos, porque fugiam dela com horror e esta veio habitar para este sítio que dela tomou o nome, pois os de Aveiro lhe chamavam a Gafanha.